Dissimulados

Todos os dias me são de um martírio profundo...

Entre a lamúria

E o desgosto deste mundo,

Entre o desdém e a solidão...

Quem vai entender quem não fala?

Porque o meu sofrimento é drama

Como se a trama

Da vida fosse o pensamento positivo

E esse pensamento positivo

Fizesse tudo que é aflitivo

Se afastar,

Trazendo o plenilúnio eterno

Para o coração rotundo de maledicências.

Grande tolice de fadas medíocres!

Porque paparicam o nosso pecado,

Ludibriando-nos com o dolo astuto.

O mundo está coberto por esta sânie...

Fingimos que não vemos,

Tapamos nossos olhos e trancamos nossa inteligência

Com correntes fortíssimas;

Fingimos que não somos podres e interesseiros,

Que não somos solitários,

Que nos ajudamos,

Que nos amamos...

Hipócritas saprófilos!

Porque temos o pecado nas veias

E ele é bombeado por nosso coração putrificado.

Fingimos...

Como se a dissimulação não fosse pecado;

Como se o menor dos engodos fossem pecados menores.

Danada rainha tristeza,

Amiga da solidão,

Irmã da carência,

Prima da luxúria,

Afilhada da promiscuidade...

Ô família de maltrapilhos!

Por que nós te amamos e fingimos que gostamos

Da irmã-bastarda,

Chamada de Felicidade?

26/11/2010 1h15

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 26/11/2010
Reeditado em 26/11/2010
Código do texto: T2637405
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