A NONA SINFONIA

Numa janela aberta,
Uma alma de poeta,
Tece versos solidários,
À noite de lua indiscreta,
Na casa ao lado alguém sonha...
Atravessa a vastidão,
Sente-se acima das nuvens,
Perto do sétimo céu,
Faz do quarto um santuário,
Com os acordes de Beethoven,
Transcende na nona sinfonia,
A alma ouve encantada,
Compartilha o esplendor,
A instantânea euforia,
De repente, fica ensimesmada,
Vê-se no nada,
Perde a rima, o vapor,
A cor da fantasia,
Sente vergonha,
De contrapor,
À divina harmonia,
Abandona o papel,
Com versos inacabados,
Que pelo vento é levado,
Recolhe-se calada,
Ao silêncio do ser,
E tenta adormecer,
Sem poesia.