Um copo de mágoa
Ó tu, que lambes as regiões
Mais baixas da terra
Como uma imensa língua
Num constante cio,
Produzindo vida abundante.
Tu, que suavemente
Bates, mudando a forma
Da pedra filosofal
Do destino. A postura
E até o pensamento
Das mais teimosas,
Duras e irredutíveis Rochas.
Que habitas os mares, rios,
Igarapés e florestas
Numa quase onipresença,
Enfeitando o céu com cores
De paz e harmonia;
Saúde de todos os seres.
É por seres assim
Que muito te venero.
Peço-te que me perdoes
Por não conseguires
Lavar a minha alma
Que, por ser mais dura
E mais impermeável
Que o dorso do mais duro granito
Que modelas com carinho,
Parece estar inascessível
Às tuas beneces.
Perdoa pelo oleo, pelo lixo,
Pelo agroveneno,
Pelas fezes e urinas
Que, sem remorso, jogo em ti;
Por eu ter que comprar-te
Quando te dás de graça
E com graciosa têz;
Por eu te tratar com descaso
Como se não fosses a razão
A minha vida e saúde,
E por eu considerar-te,
Pelo meu comportamento,
Um ser digno de mágoa.
Peço-te que refrigeres
Minha alma neste deserto.
E, decerto, serei feliz
Com cada copo do teu carinho.