Um copo de mágoa

Ó tu, que lambes as regiões

Mais baixas da terra

Como uma imensa língua

Num constante cio,

Produzindo vida abundante.

Tu, que suavemente

Bates, mudando a forma

Da pedra filosofal

Do destino. A postura

E até o pensamento

Das mais teimosas,

Duras e irredutíveis Rochas.

Que habitas os mares, rios,

Igarapés e florestas

Numa quase onipresença,

Enfeitando o céu com cores

De paz e harmonia;

Saúde de todos os seres.

É por seres assim

Que muito te venero.

Peço-te que me perdoes

Por não conseguires

Lavar a minha alma

Que, por ser mais dura

E mais impermeável

Que o dorso do mais duro granito

Que modelas com carinho,

Parece estar inascessível

Às tuas beneces.

Perdoa pelo oleo, pelo lixo,

Pelo agroveneno,

Pelas fezes e urinas

Que, sem remorso, jogo em ti;

Por eu ter que comprar-te

Quando te dás de graça

E com graciosa têz;

Por eu te tratar com descaso

Como se não fosses a razão

A minha vida e saúde,

E por eu considerar-te,

Pelo meu comportamento,

Um ser digno de mágoa.

Peço-te que refrigeres

Minha alma neste deserto.

E, decerto, serei feliz

Com cada copo do teu carinho.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 23/10/2010
Reeditado em 06/03/2012
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