O Ronco da Preia-Mar

Está bem, vá lá que seja.

Mas acrescenta aí uma ponta de essência

na lantejoula de teu pensamento

e descobre que a verdade

está no aumento da possibilidade

de elucidação do problema,

e não na difusa racionalidade concreta

de uma solução que não se quis

alcançar.

O ronco da preia-mar se dissolvendo na areia.

Um monte de andorinhas correndo para vê-la

esgueirando-se pela ribanceira

em direção ao céu.

Ao sul estou sentado

no tronco da árvore ressequida,

com meu charuto apagado

na boca.

Se faz sinal, meu medo não vem.

Apanho um pouco de água de sal.

Vou perdê-la de vista.

Procuro por alguém, uma pista

que insista que eu nunca estive aqui.

O tronco da árvore ressequida

me dá mais um dia de vida,

me olha em seguida

e vê que irresolutamente eu fugi.

A água ressentida

volta pro meio do mar.

Meus pés molhados parecem

querer gargalhar. Eu nunca soube nadar.

Seu dorso cor de âmbar,

as coxas que me impulsionavam a cabeça,

as últimas coisas que vi

como sendo aquilo que mais desejei.

Depressa, subindo a ribanceira.

No tronco sentado fiquei.

Rio, 21/02/2006