FIOS DA VIDA
Sou uma verdadeira tecelã...
Crio a partir de fios de lã
Percebo a vida sob medida
Bordo com agulhas de aço
Como entrelace no espaço
Aprecio a costura dos traços
Cultuando instantes e sentimentos
Vou compondo minha teia
Busco a inspiração na veia
Em fios na coordenação
Trabalhados pela emoção
Ou talvez movida na inaptidão
De minha habilidade e equidade
Vou tecendo com cuidado à vida
Apesar de sofridas despedidas
Estou em permanente ornamentação
Ao entrecortar do fazer e refazer
Vou à busca da perfeição
Assim sou tecelã em ação
A entreter-me em fios...
Fios dourados e brilhantes
Por vezes até dissonantes
Em fios que se enrolam...
Por atos, fatos e contatos
Formando nós cegos doídos
Que só a custo se desatam
Tranço a vida também em cipós
Emaranhados pêndulos e lotes
Que se tornam chicotes
De açoites aos boicotes
Tal os fios de estopa
Nessa serventia cavalgo
Lavo todos os sentimentos
Sou quem constrói a sua história
Lapidando os meus movimentos
Desses que tecem as intrigas
Objeto de tantas fadigas
Das covardes disputas
Extirpo fios desencapados
Para não ser eletrocutada
E assim me limpo das culpas
Vou tramando meus fios em teias
De mera fortuna e infortúnios
Feito à teia de Penélope
Ao recomeçar indefinidamente
Talho os atalhos da mente
Até me deparar ao acaso
Em filete de lâmina a cortar...
A trama de minha teia.
Duo: Lufague e Hilde