Silêncio do espetáculo

Inerte, intocável. Eis uma rosa.
Os meus olhos desbotavam-se inflamados, sentindo o exulto
De cada célula, separando-a uma a uma.
Cada pétala, cada espinho, pertencendo imutavel-mente nela.
Dormitava líquido e rastejante a ardente doçura,
Contida na mais profunda fragilidade.
E neste espetáculo, me via invadida num indecente desejo, vislumbrando atônita, permanecendo-me fiel ao que via.
E em cada erro, relutava a flor ao vulnerável olhar da amante.
Não mais inerte. Calada e tremula,
A flor sentia a dor que nela eu via. E como um espectro silencioso,
Vi diante dos meus olhos, o prazer que naquela
Tão primordial flor persistia em me hipnotizar.
E, cedendo num longo desfeche, percorrendo fibra a fibra,
Célula por célula. E então no mutuo anseio,
Numa calma alheia, hesitou por um instante,
E como foi inútil caiu com sutileza num ato de despedida,
Num espaço tão breve num instante eterno, suspirou.
E calmamente se foi para só então descansar em paz.

belestevao
Enviado por belestevao em 21/09/2010
Reeditado em 18/09/2011
Código do texto: T2511978
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