TEMPO DE EXISTIR
Ainda recordo meu tempo de fé:
O movimento das horas
cinzelando meus sonhos.
As palavras sem travas,
as ossadas das lembranças
mergulhadas nas sombras.
Um canteiro de cânfora
perfumando as mãos.
Meu tempo de esperança
não era essa caricatura de estrelas
que borram o céu dos sentidos.
Era um rosto organizando a vida.
Era um culto velando o sono,
um oráculo em vestes amarelas,
fomentando o divino,
nas pequeninas coisas.
Uma semente, um sorriso,
uma palavra dispersa que nutria.
Medito sobre estes restos de caminhos
que me chegam,
sobre esse tempo que se estende
diante da colina:
um tempo inanimado em seu degredo,
mas que, vez ou outra, acende uma luz
a serviço dessa minha noite
de vigília eterna.
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