Descalço do mundo
O mundo é um calçado que não me serve
Calçá-lo causa-me aperto na consciência
Calos tornam sôfrego o prosseguir de meu entendimento
Tomo como linimento o descalçar opressivos sistemas
Livro-me das bolhas — tão pequenas —
na dor a suportar de um corpo amorfo
nos passos de meu caminhar
Descalço quero morrer
Talvez nos Elísios o rosto empalidecido
tira-me do esquecido, ao menos as pegadas
de quem o sentido,
andou cego a procurar
Quem no ardor de prosseguir
não olha sua dor que para trás ficou,
abraça pesada brisa que aos seus olhos acarinhou
De tanto e por tanto dos muitos que não vivi
Nas impróprias horas que a mim nada disse,
O mundo é só uma ideia que se tem do mundo,
mesmo que nele não se queira pensar
Olho pra ver se vejo algo
palpável assim como meus olhos fechados
Dei-me conta de que tenho uma eternidade
guardada em meu bolso
Assim como um chá de jasmim
tão mais do que um reino —
mero reino — sem Alices maravilhas
na espera de um dia sem fim