Criptograma

Esquecido por si mesmo,

Afundando em seu celibato de rituais cotidianos,

Numa miscigenação cinemática de paganismos enlatados em cada lar.

O altar sacrificial da Estupidez é a mente humana,

E todo parlamento e senado são sanatórios de escribas e vocabulários aristotélicos.

Nuvem de Arlequins monocromáticos pleiteando suas próprias causas tão barbitúricas,

Os Mártires da Mentira caminhando como névoa nas superfícies de suas pontes inacabadas.

Acariciando o magma da genitália do Caos,

Sentindo inúmeros morfemas gotejarem em minha língua,

Enquanto orófitos de papoulas conceituais nascem dentro de minha alma,

E eu canto o nascimento de um deus maligno em todas as mesquitas, templos e igrejas.

Sou o reflexo vaporizado da sombra do vento andarilho.

Quanto mais abraço o Universo, menos o sinto real, veraz, incontestável.

Meus pensamentos apalpam os rostos informes de seus próprios corpos lingüísticos,

Sentindo-se como cópias falsas de si mesmos.

A existência é um abismo onde todos estão enjaulados,

A vida é um mar mítico de ilusões mascaradamente palpáveis.

O ópio do Eu nas penetrações sexuais,

As cinzas das recordações queimadas exalam odores fotográficos do passado.

Os olhos que estupram corpos híbridos que passam pela rua,

Nessa procissão ateniense de manequins andróginos.

Tantas sílabas neurais caem mortas entre tuas mãos cacofônicas.

Óvulo lunar fecundado pelo hálito do sol,

Banhando as árvores e as feras noturnas com o sopro das bulhas silenciosas,

Num rio geométrico de Luz membranosa

Se enxertando nos pedúnculos do Ar.

Teus olhos de Caim trovejam silêncios cortantes de navalhas surdas,

A fumaça Asteca de corpos imolados que osculam

O altar celeste dos gritos cuspidos no cálice de Deus.

As mãos que pranteiam a cópula da alma pérfida numa simbiose unilateral,

Nesses corpos ungidos com mentiras umectantes,

Cujas línguas prolixas brotam fontes de venenos agourentos,

Cujos pés umbrosos gralham impulsos homicidas.

No furor ciclônico do coração a se deleitar

Com o cadáver estripado da criança entre seus braços helenísticos.

Gilliard Alves

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 17/08/2010
Reeditado em 20/08/2010
Código do texto: T2443481
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