A Criança que Pulsa em Mim...
Há uma linda criança dentro de mim,
Com olhos de um azul celeste divino, e hipnótico;
A pele macia, branca, suave,
E um rosto tão fulgente que transpira pureza,
Amor, inocência, e uma curiosidade ávida pela Existência.
Contudo, e sempre há contudos em tudo,
Lágrimas escorrem em brados inauditos de seus olhos,
E uma tristeza hermética, densa, e sombria se dilata de sua pequena alma,
De suas lindas mãos,
De seu coração tão carregado de pensamentos e emoções.
A criança que mora em mim permanece calada,
Enquanto seu olhar confronta e observa minuciosamente
A decadência de meu ser, e de tudo o que as mãos de seus sentimentos
Tocam por todo o Cosmo.
Não consigo mais encarar a criança que habita em mim,
Que caminha pelas ruas fétidas e escuras de minha alma,
E ela chora silenciosamente todos os dias ao afagar quem não sou e o que sou,
E ela sente os gemidos de dores inenarráveis da natureza, e do mundo.
Ouço tantas vezes suas lágrimas colidirem em diversas rochas
Onde sepultei tanto de mim;
Suas pisadinhas correndo pelo labirinto de minha consciência heraclitiana,
Enquanto meus outros “eus” perseguem-na a fim de matá-la de uma vez por todas.
Decapitar, trucidar e carbonizar essa criança: o único ser belo,
Puro, autêntico, vívido, e cheio de fulgor que ainda reside
Em mim.
Até quando ainda resistirá a lírica criança que pulsa em mim?
Gilliard Alves