nevoeiro na vidraça

quando bate o nevoeiro

na vidraça do meu quarto,

sei que tenho o mundo inteiro,

mas ainda não me farto

posso ter a esperança

e depois a alegria,

porém nenhuma daria

pra encher a minha pança

dialogo com a tristeza,

não aceito o seu sermão,

mas não fujo da certeza

de entrar em depressão

nevoeiro na vidraça

só tem graça se a ferida

está seca e a ameaça

de voltar foi esquecida

mas se a chama da incerteza

permanece assim acesa,

nevoeiro na vidraça

mostra que ela não passa

e me induz a uma presença

que me escurece o dia

porque traz essa doença

de pensar na alegria

alegria não se pensa,

alegria a gente sente;

tenho uma vontade imensa

de que o sol se apresente

sinto a brisa da saudade

e o fulgor da solidão

e uma falta de vontade

me encharcando o coração

nevoeiro me comove

com a sua eficiência,

mas sei que não me demove,

tenho alguma resistência

tenho os olhos bem abertos,

mas é pouco o que vejo;

o que enxergo são desertos

que não têm o que desejo

mas será que eu procuro

alguma coisa mesmo enfim?

perguntei isso pra mim;

estou doente e não me curo

peço que isso acabe logo,

peço a alguém pra me acudir,

peço a Deus e enquanto rogo

lembro que quero pedir

que esse nevoeiro passe,

siga em frente e me esqueça

mesmo que um novo um impasse

como esse me aconteça