A Voz das Minhas Entranhas
Ouviu o grito? Soou forte no interior da caverna
Veio das entranhas sujas de sangue
Do inferno pútrido e estomacal,
Habitado por abutres e serpentes;
As feras que excitam meu linguajar
O grito era pra ser um tiro
Te matar e esmagar,
Mas o que fazer; és romantica.
Só teu sofrimento é realista
Vidro estilhaçado no chão,
Gotas de sangue; terror.
Nenhum cenário inventivo poderia,
Transmitir melhor o reboliço
Que se começava no meu interior
Mas das minhas entranhas não sairá,
Milagrosas vozes doces,
Nem ao menos conseguirá
Te conter ao ouvir com emoção
Frases ambíguas, feitas, firmes, sujas,
De um louco efervescente coração
Coração? De que és feito?
Sangue, lágrimas, farrapos, lama,
Arame farpado, cinzas, brasa,
E urânio enriquecido por russos embriagados
Maldita União Soviética!
Deus salve os comunistas, comedores de crianças!
Mas Deus é capitalista, não vai salvar ninguém
Irlanda do Norte, resista aos ataques britânicos!
Afeganistão, injete heroína em teus heróis
Arranque o coração dos teus inimigos,
Depois me traga em um vidro,
Numa conserva com papolas
Ter cem mil almas não me livrariam do Inferno,
Da lasciva mão do Diabo,
Que quer que eu salve sua pele,
Quer que eu o leve até o céu,
Acerte as contas com Jesus...
...De que me serviria servir a ti?
Grito aos leprosos que virarão esterco,
E aos que nasceram de abortos,
Gloriosos ladrões sem caráter
Que 'day-by-day' roem o osso
De nossos irmãos mortos atropelados
Carne, jantar;
Rifle, defesa;
Um grito a mais e meu coração explode,
Aquieta-te entranhas malditas!
Sentes em mim o fogo do Inferno?
Foi um sádico cruel que me envenenou,
Com um vinho francês
Maldito Marques!
Repúdio ao oxigênio é pouco.
A vida é pouca.
O poema é pouco.
E a voz das minhas entranhas, rouca.