Eu
Eu
Ao longo dos séculos estive a sua procura
Sem saber paras onde caminhava
Nem para onde olhava
Eu
Ao longo dos séculos intrépidos
Conheci amores sábios
Pessoas e línguas de gerações perdidas
Eu
Ao longo dos séculos passados
Conheci amores estúpidos
De gerações evoluídas na breguice que ficava e voltava
Eu
Enquanto os séculos levavam sua imagem
Persegui mendigos por um pedaço de pão
E tirei doce de criancinhas malvadas
Eu
Sem perceber os séculos
Tornei-me egoísta
E a vaidade caminhava comigo
Eu
Sem perceber os séculos irem sem mim
Esqueci quem era
E o espelho se tornou meu maior rival
Eu
Enquanto os séculos me esqueciam
Reergui a cabeça aço anil
E agarrei com força de vontade a mão ingênua estendida a minha procura
Eu
Enquanto esquecia os séculos
Respirei o ar puro e fresco daquela manhã
Que me aguardava ansiosa
Eu
Que já não via os séculos passarem
Vi homens travarem batalhas inúteis
E outros argumentando em vão
Eu
Que me deixei conquistar pelos séculos
Não te vi passar
Com os anos que me carregavam
Eu
Já com os olhos dos séculos
Vi sonhos se realizarem com o fervor da bondade desses mesmos homens tão crédulos e otimistas
Nas alegrias de festas intermináveis
Eu
Ao longo dos séculos chorei
Lembrando daquela mãozinha ingênua estendida
A me resgatar
Eu
Ao longo dos séculos me emocionei
Olhando novamente o céu anil
E aquele sorrisinho que brilhava
Eu
Que não me deixei vencer pelos séculos
Ainda me lembro daquele dia glorioso
Das perninhas correndo felizes para a mãe
Eu
Que pensava que os séculos me haviam cedido sabedoria
Vi e ouvi tantos poemas, contos e fábulas acontecerem
Lendas vivas morrerem na história
Eu
Ao longo dos séculos que não repetem
Vivi tudo que se possa imaginar
E tudo de novo
Eu
Ao longo dos séculos ininterruptos
Procurava-te e esquecia-te
Sentia-te passar e deixei-te ir
Eu
Ao longo dos séculos estive a sua procura
Sem saber para onde caminhava
Nem para onde olhava
Eu
Ao longo dos séculos
Vivo
Espero-te.
*