METAMORFOSE
METAMORFOSE
J.B.Xavier
Eu, que me reconstruo a cada dia,
Destruo-me a cada reconstrução
Pelo prazer puro da simples renovação
E pelo delírio da visão que me delicia:
Estar ruindo e me reerguendo em incessante
Ciclo de inatingíveis perfeições
Onde, pelo menos os libertos corações
Possam se reencontrar a cada instante...
E sigo desfazendo-me e me reintegrando
Abandonando causas e novas bandeiras erguendo
Ao mesmo tempo, sendo a antítese do que pretendo,
E me transformando de vendaval em cálido vento brando
Sou essa instável coerência,
Essa premonição esperada, essa cegueira branca
Esse fio do tempo que o presente estanca,
Essa finita eternidade da construção da decadência...
Queres me seguir? Segue-me em minhas mutações,
Se sou flor, transforma-te em perfume,
Se sou claridade, transforma-te em negrume...
Se sou música, torna-te canções,
Porque sou metamorfose, brisa e furacão,
Transformo-me no novo e destruo em mim o antigo...
E sendo de mim mesmo amigo e inimigo,
Ao destruir-me sou também minha própria reconstrução...
* * *