Muitas vezes eu sonho um sonho louco,

um sonho que me envolve pouco a pouco,

e, à mi! alma mostra cena sem par...

Me vejo só, andando entre vielas,

e, sob a luz de lampiões a velas,

vou indo com destino a algum lugar...

 

Meu costume é dum verde aveludado,

que agasalha alva bata de brocado,

e, negras botinas de austeridade...

No porte eu carrego um ar de nobreza

e, dentro d’alma, a sólida certeza

de que vivo intensa realidade...

 

O estilo barroco das construções

não me espanta, e nem as emanações

que voejam no ar me causam medo...

Traz um mistério a noite enluarada,

e, uma intuição, estranha e velada,

lembra trama de inolvidável enredo...

 

Se me depara um casarão austero...

Meu peito agita, e os passos acelero,

qual me espreitassem sombras num levante...

Mas, sei que preciso seguir em frente...

É urgente e necessário que eu tente,

e, então eu sigo sempre confiante...

 

Entro e vejo que, em meio a realeza,

sob o som duma valsa vianesa,

pares rodopiam alegremente...

Sei que pertenço àquela sociedade,

que canta, dança e ri em irmandade

mas, não paro, quero seguir somente...

 

A escadaria, além, é trabalhada,

elegante, em linda forma entalhada...

Subo, pois sei que lá é o meu destino...

Paro à porta majestosa e me ufano

Penso que vou desvendar um arcano

porém, sempre desperto, repentino...

 

E volto à realidade do presente,

trazendo dentro d! Alma ainda rente

uma impressão deveras singular!

E, de olhar perdido na escuridão,

indago aos céus em forma de oração:

Onde eu vivi tal cena secular?

 

2007

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nelson de Medeiros
Enviado por Nelson de Medeiros em 07/09/2006
Reeditado em 29/09/2024
Código do texto: T234459
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