BRANCO E PRETO
Certo dia no piano de calda
Pelo toque... Duas teclas roçaram
Foi amor intenso... Logo de saída
Notas dedilhadas pelo fascínio
Almas que se interpenetraram
E duas peças se cruzaram
Em plena e total harmonia
Num tabuleiro de xadrez
A sedução mútua invadia
Investiram ali suas energias
Um dia ousaram despir-se
Tudo posto a nu e cru
Preto no Branco
Soltos véus e mantos
Branca pena saliente
Esboçou o poema inteiro
Depois de mergulhada
Em negro tinteiro
Meio que embriagada
Deslizou...
Suas dores e amores
Rabiscou...
O que estava encoberto
Colocou às claras
Branca folha de papel...
Viu a pena virar pincel
Um outro dia
Caiu dos céus
Sem escarcéu
À chuva
Lavou as lágrimas
Das eternas esperas
O preto e o branco
Sonhos e quimeras
Tudo de relance... Misturou!
Na avalanche a boca se calou
Emudeceram-se os lábios
O preto desbotou
Noutro branco e preto...
Acinzentou!
Acidente, mera coincidência
Da união das essências
A melodia logo encantou
Para espanto da ciência
A poesia brotou!
Hildebrando Menezes