BRANCO E PRETO

Certo dia no piano de calda

Pelo toque... Duas teclas roçaram

Foi amor intenso... Logo de saída

Notas dedilhadas pelo fascínio

Almas que se interpenetraram

E duas peças se cruzaram

Em plena e total harmonia

Num tabuleiro de xadrez

A sedução mútua invadia

Investiram ali suas energias

Um dia ousaram despir-se

Tudo posto a nu e cru

Preto no Branco

Soltos véus e mantos

Branca pena saliente

Esboçou o poema inteiro

Depois de mergulhada

Em negro tinteiro

Meio que embriagada

Deslizou...

Suas dores e amores

Rabiscou...

O que estava encoberto

Colocou às claras

Branca folha de papel...

Viu a pena virar pincel

Um outro dia

Caiu dos céus

Sem escarcéu

À chuva

Lavou as lágrimas

Das eternas esperas

O preto e o branco

Sonhos e quimeras

Tudo de relance... Misturou!

Na avalanche a boca se calou

Emudeceram-se os lábios

O preto desbotou

Noutro branco e preto...

Acinzentou!

Acidente, mera coincidência

Da união das essências

A melodia logo encantou

Para espanto da ciência

A poesia brotou!

Hildebrando Menezes

Navegando Amor
Enviado por Navegando Amor em 27/06/2010
Reeditado em 01/07/2012
Código do texto: T2343568