Cárcere do Ser

Imerso no abismo de seu próprio ser sibilino,

Como um quarto sem portas e sem janelas,

E um nevoeiro de sombras de seus próprios pensamentos

O impedem de ver qualquer coisa nesse sarcófago literário.

Este auto-ódio do “Eu” contra seu próprio Eu,

Neste dissídio quixotesco e agnóstico se digladiando,

Almejando renascer-se na fusão sexual de todos os antagonismos da Existência,

Trovejando o pulsar de seu corpo por todo o universo,

A fim de rasgar o vácuo tangível metalizado em sua alma.

Apalpando este auto-abismo orgânico

O qual é isento de sol, de árvores, de vozes humanas...

Suas mãos clamam por uma saída,

Mas seus pensamentos o acorrentam para o seu próprio âmago.

Matar o próprio ser na ilusão de uma metamorfose,

Enquanto o amor fumega entre dois lábios magnetizados,

Mas o bode expiatório jamais apaga os erros cometidos,

Nessas simbologias impregnadas de mentiras e auto-ilusões.

Revestir a exterioridade corpórea do ser

Com a incorporiedade de nosso interior embalsamado.

Encontrar-me para me perder;

Ler-me para não me decifrar;

Unificar-me para em tudo me diluir;

Pensar-me para enfim não ser;

Digerir-me para sentir o todo de mim;

Vestir-me para revelar minha sagrada nudez;

Olhar-me com os olhos fechados para desaparecer;

Aprisionar-me para está somente para mim próprio.

Caramujo humano que odeia a própria essência,

Re-pitando o quadro de seu ser vazio com um novo rosto ainda insatisfeito,

Talhando-se sem contudo tocar na epiderme da essência de si,

E a cada dia que se passa mais se encortina a verdadeira identidade do Eu.

Sentindo com o tato, o paladar e a audição

O corpo sonoro de cada palavra escrita no papiro de sua mente,

E o humo de sua imaginação florescendo

Árvores verbais que ultrapassam o Olimpo;

Mas o abutre da auto-insatisfação lhe corrói o fígado noturnamente,

E não há nenhuma morfina dogmática, heterodoxa ou humana

Que lhe anestesie temporariamente as chagas que flagelam o Eu fragmentado;

Contudo do nada surge uma taça transbordante de aporias

Trazidas pelas mãos cadavéricas do eleatismo kantiano.

Um duelo pagão e interno entre Luz e Trevas,

E em cada poema expelido pelo útero da mente

Uma parte de mim é rasgada sem jamais retornar,

Nesta jaula que sou Onde todos os demônios animalescos

E todos os sentimentos sepultados em si

Penetram e se afixam por todas as células autoconscientes de minha alma.

Não ser a si mesmo e não ser ninguém,

Carbonizar esse vocábulo “ser” e todos os seus derivados lingüísticos interligados.

Fugir das profundezas de meu âmago

E emergir de minhas próprias cinzas transubstancialmente.

A Nitidez Distorcida do Cárcere do Ser Engendrando Epopéias de Luzes Eclipsadas.

Acaraú, 30 de maio de 2010

Gilliard Alves

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 30/05/2010
Código do texto: T2289246
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