Desabafo
Ele
De frente para a tela do computador
Do lado a fumaça da cigarrilha
Envolvendo todo o ambiente
Seu pensamento está longe
Está com fome, muita!
Um dia ele teve sonhos
Seu país prometia.
Ensinavam que éramos soberanos
E que tudo seria ordem e progresso
A constituição emanaria do povo e por ele seria exercida
Desde as primeiras lições de vida
Acreditava-se que amanhã seria melhor
Deixaríamos de ser feudo dos países desenvolvidos
Plantaríamos, "colheríamos", industrializaríamos.
Seríamos grandes.
De uma pirâmide passaríamos a viver como um retângulo
Onde todos os ângulos são iguais
Seríamos um só perante a lei
Cresceríamos, criaríamos filhos cheios de saúde e educação.
Ele, nosso povo, seria forte e rígido.
Projetos sociais eram fundamentos.
Canalização, extinção de doenças epidêmicas.
Moradia para todos
Renda mínima com moral
Ninguém sofreria humilhação
Todas as crianças nas escolas
Todos os que nos criaram amparados
Os diferentes respeitados
Sistemas de odontologia, de saúde e de lazer.
Todos usufruiriam
Greves e pancadarias seriam coisas do passado
Um policiamento preventivo e não punitivo
Leis ambientalistas acima das agro pecuaristas.
Parques públicos para tempo livre
Acesso aos benefícios da psiquiatria
Terapia de massa
Erradicação da pedofilia
Menos psicopatas
Baixo índice de neurose
Uma população menos estressada.
Saúde mental ao alcance de todos
Corruptos só na praia, como isca para pescadores.
Instituições lucrativas sem desrespeitar o direito
O homem indo e vindo
Menos passaportes
Mais interação
Um povo ambicioso, mas não ganancioso.
Classes sociais não tão distantes
Direito à família
Alimentação básica nas mesas
Estados com poucas diferenças estruturais
Arquitetura e engenharia voltadas às necessidades de todos
Espaço para a cadeira de roda
Trabalho para deficientes sem esmolas
Comunicação sem exploração
Informática junto com o pão e a manteiga
Vestuário para todos
Jamais fechar as praias, ele; o todo, seria o herdeiro de todas.
Um direito justo, mas nem sempre jurídico.
Solução prática para conflitos de interesses
Um pedaço de terra para cada um.
Uma aldeia global com classes
Mas todas integradas
Tendo obrigações e deveres para com todos
Todos os setores econômicos voltados ao bem-estar de cada um
Um preço justo para o conforto, o desenvolvimento e o lazer.
O dinheiro, um meio e não um fim
O direito ao credo, todos, indiscriminadamente.
Nada de cadeias-hotéis
Campos, fazendas-modelo e prestação de serviço social.
Uma pena justa
Um poder com inteligência
Sem força, sem chantagem.
O poder do talento, do aprendizado.
Um poder conquistado naturalmente
Um poder com respeito
O direito à pesquisa
Um clone do que é bom e necessário
Um aborto ao futuro sombrio
A eutanásia do morto
O amparo as minorias
Um apoio ao esporte
Patrocínio a todos.
Nadar por medalhas ou pela saúde
Correr do ostracismo ou para vencer uma olimpíada
Cavalgar por prazer ou por um troféu
Ir ao "Ringue" para vencer naturalmente
Nada de forças artificiais
Guerra apenas interna para aquecimento
Vencer, sim. Mas nunca aniquilar o adversário
Um agradecimento à maior vitória – estar vivo
Matar a fome sem matar a fonte
Controlar os instintos sem ferir-se
O próximo com seus direitos e limites
Desenvolvimento, sim.
Do corpo e do espírito
Tirar do dicionário a hipocrisia, o cinismo.
Apagar a idéia de levar vantagem
Romper com a artificialidade
Deixar fluir as atitudes e nunca programá-las
Ser e não ter.
Amar e deixar o amor livre
Homem e mulher, livres para criar e serem felizes.
Todos formando seus valores e suas crenças
Realizando seus desejos mais ímpares
Menos etiqueta e mais autenticidade
Ele é você, eu, nós, vós, tu, que habita este planeta.
Que sonha, realiza, transforma e produz.
A legislação e a jurisprudência podem caber num livro
Mas a execução é dele. E ele será bom se você
For um cidadão formado em ser humano.
“Todos os indivíduos unidos jamais serão vencidos.”
“Sabe-se se o fruto é bom conhecendo a semente.”
“Dois indivíduos geram parcerias, cumplicidade, amor, prazer.”
“Sabe-se se a sociedade é civilizada, estratificando-se o individuo, e se ele vale a pena, o povo a que ele se integra tem um contrato social universal – um paradigma para as futuras gerações”
A cigarrilha queimou no cinzeiro
Ele dormiu acordado
Viajou em suas ondas cerebrais como um barco de papel
Livre e deslizou por rios, cachoeiras e mares que habitavam seu interior
Suave como o vôo de Fernão Capelo Gaivota
E numa praia situada no meio do ser, onde talvez seja a moradia
De Deus e também do diabo, ele se imaginou a semente da sociedade
Viajou com os nômades, viveu com os que plantavam, dormiu em suas aldeias, Experimentou a lança, trocou-a por uma espada de ferro e decepou a
Vida com uma espada de titânio
Seu sangue espalhou-se por milhares de cidades
Infiltrou-se nos corpos dos líderes mais eruditos
Tornou ilegíveis papiros, livros sagrados, manchou o programa dos computadores, Misturou-se no combustível da Nasa e deixou um rastro vermelho que se espalhou por toda a eternidade.