Engasgo
A natureza nos impele à Paz
Nos força à força
Nos impele ao orgasmo
Nos exige o vigor do búfalo, o riso da hiena, o ventre da Afrodite.
Transmito descontentamento
Ciente da máscara que não posso tirar
Ciente do objetivo intraduzível que supostamente temos de partilhar -
Suspenso no ar
Como sentado numa pequenina amiga, nuvem voadora invisível
Reflito.
Meu intelecto atravancou:
Sinto meu corpo
Sei dele e sou ele,
Mas qualquer coisa quase somente lógica quer se comprovar pura lógica e tomar posse de meu arbítrio.
Demorei demais a aceitar minhas responsabilidades
E isto não me tornou mais feio
Até mais respeitado profissionalmente!
Só que não quero mais que isto seja um canto pra desabafos nervosos de uma víbora
Pouco importa a este ponto minha escolha
Meu documento de identidade
O ar correndo pelos meus pulmões... - ou, não, certas coisas importam e muito ainda...
Ah, sim, estou tentando evitar mentir
Em verso
O que ajuda muito pouco
E cá estamos
Tudo Tudo
Nenhuma fronteira
Continuidade
As drogas todas que consumi... ginseng, THC, vitamina-C...
Além do meu corpo
Há todos os outros corpos -
Só não digo "infinitos" porquê não pude contá-los ainda -
Cada corpo esta auto-percepção auto-existente
Tentando ensinar-se a si de si
Dos outros corpos
Das drogas que consumimos.
Meu corpo:
O que tem dentro da pele
A própria pele inclusa...
Mas à música
Quando danço
Me fundo
E daí meu corpo é o ambiente e todos mais dançantes presentes
E então o prazer é mui mais complexo, - que onde terá ido parar meu ponto-G?
Ah,... se a Vida, apesar de infinita, por causa do Tempo,
Não passasse também tão rápida pros dançantes presentes...
Só que, é!, rápida e furiosa
Ela não diz realmente que se tem de ter pressa...
Como se o silêncio humano apreciasse a paranóia de poder viver eternamente
Pelo simples fato de permití-lo olhar-se de fora de seu corpo sem um espelho.
Então, a Morte vem,
Como uma deliciosa recostada à trilha num descanso de quinze minutinhos que nunca terminou -
Uma ação humana perpétua demonstrada.