A PRINCESA E AS TORRES
A PRINCESA E AS TORRES
Num reino
nada distante
Em um castelo
nada luxuoso
Morava uma princesa
Que de nobreza, nada tinha,
Embora seu nome fosse Rainha.
Quando o rei decidia
Era trancada na torre que media
Apenas dois por três
Açoitada,
Chorava,
Gritava,
Soluçava,
Enxugava as lágrimas
E, esquecida da dor
Chamava seus amigos invisíveis
E executava sua vingança:
Brincava, sem brinquedos.
Quando deles se cansava
Subia em sua cama
E, bem baixinho, pela janela,
Chamava a amiga vizinha
Que de nobreza também nada tinha
A não ser o mesmo nome: Rainha.
E a conversa sempre em sussurros acontecia
Pois, se ouvida fosse,
Outro castigo certamente geraria
E, então, em outra torre,
Por sua desobediência,
A menina-princesa
Seria trancada
E apenas teria como companhia
Seus amigos imaginários
Sua vizinha - amiga foi embora,
Mas os amigos invisíveis sempre viveriam com ela.
Porém, se revelasse esse segredo,
O que pensariam?...
Compactuou com eles
E pensava que jamais a deixariam.
Assim pensava
E assim pensou
Até o dia em que seu coração
Por um príncipe, que de encantado nada tinha,
Resolveu acelerar.
Era livre, agora!
O rei que a trancava morrera.
Da torre, a chave fora perdida.
Viveria seus sonhos.
Não precisava mais
Dos amigos imaginários.
O coração da princesa
Tomado pelo fogo da paixão
Desafiou os conceitos da família,
Que de real tinha somente a pobreza.
Entregou-se a seu príncipe
De corpo e alma
Para viver seu grande amor.
Assim pensou
E mais uma vez se enganou.
Seu príncipe encantado
Descobriu um caminho sem volta:
Às drogas se entregou
De corpo e alma.
A princesa tentou viver:
Chorou,
Gritou,
Soluçou,
Enxugou as lágrimas
E, com toda aquela dor,
Resgatou a chave da torre,
Trancou-se novamente.
Lembrou - se de seu pacto
Com os amigos invisíveis
E clamou pela volta,
Mas eles se rebelaram
E não apareceram.
Sozinha,
Tentou outros amores
Sem sucesso.
Sem amor,
Preferiu viver
Com a dor da imagem
Do seu amor perdido
Refletida, duplamente, em suas filhas
E entre momentos
De loucura e lucidez
Tentava viver
(Se é que podemos chamar de vida
Aquela escolhida
E encolhida pelos outros).
A princesa fez de tudo
Para que a colocassem,
Constantemente, na segurança
Da tristeza
De sua torre.
E conseguiu!
Finalmente, uma vitória!
O castelo não era o mesmo,
A torre não era a sua de infância,
Mas sentiu-se segura
Em sua loucura.
Evocou com toda sua força
Seus amigos invisíveis
Pediu-lhes perdão pelo abandono,
Pela infidelidade
E jurou, solenemente,
Que nunca mais o faria.
Eles, então, resolveram aparecer
E prometeram que nunca mais a libertariam
Para a escravidão da sua vida.
Ela sorriu e com a felicidade,
Sentimento jamais experimentado,
Por todo seu corpo e alma,
Levaram-na para seus sonhos.
Calaram seus desejos,
Fecharam sua mente,
Pararam seu coração.
Para Regina Oliveira
(Poesia premiada no concurso I Medalha Dra. Áurea Maria de Jesus –Guaratinguetá – SP – 2º lugar)