O Menino Excalibur
Inexiste algo mais terrível
Do que não poder nascer
A poesia sussurada no ouvido
Não possuir trâmite para o livro
Em linhas de não escrever
Inescritas por não haver
Quem as possa decifrar e ler
Nesse tempo tão restrito
De governantes muito omissos
Há urgências outras inadiáveis
Primazias dos dedicados obreiros
Sombrios do Ter. Para onde
Dirige-se essa civilização
De mercadantes educados
Para ser beatos de supermercados
Dedicados operários da poluição?
Sempre em busca de mais espaço
Para poluir? A criança sufocada
Busca sair da companhia aziaga
Dos antropoides de Samaria
Nova York, Tóquio, São Paulo
Xangai, Istambul, Pequim, Teerã
Seus irmãos e semelhantes
Poluíram-se nas piores cias.
As gentes do Mediterrêneo
Índico, Pacífico, Atlântico
O menino busca inutilmente
Um refúgio, um lugar onde os
Sodomitas não estejam a cercar
Uma cidadela onde possa se
Preservar dos povos vestidos
De petróleo. Suas cidades
Infestadas de desonra e gases
Tóxicos. Da franca deterioração
Dos sentidos. A criança quer
Fugir dos abrolhos, dos locais
Infestados pelos negros olhos
Espraiados no espelho das águas
Do marinho ar de olhos tvvisivos
Todos negros. Tentando subir
No pau-de-sebo escorregadio
Do consumir. A mulher em
Chamas lhe chama pelo nome
Diz: “Todos se adaptaram
Por que não você? Vc não é
Melhor do que os outros”.
— Ou é? Pergunta-se ela.
A criança precisa inventar
Uma mágica. Criar um universo
Paralelo onde possa habitar
Infinitamente distante das
Cidades onde vivem os filhos
Fudamentalistas do senhor
Mercado, Indiciados pelo Medo
A mãe clama pelo menino longe
Muito longe, para além das
Brumas de Avalon. Num asilo
De solidão e degredo. O velho
Ciclo arturiano não o acolheu
Sob as unhas. A bruxaria
Mercado, globalizada pelos
Descendentes de Merlin está
Indócil em todos os lugares
Navegados pelo poeta Dante
A espada ainda sem lâmina da
Criança começa a ser empunhada
Na maré óssea ao sul das
Espumas flutuantes.