Pensar É Raiar
Pensar é fisgar significados
Do mar.
Pendular entre ondinas
Que vêm brincar
Nos nichos das sereias.
É aproveitar a promiscuidade
Delas quando vêm suprir carências
Ancestrais ao se roçarem no rócio
Do tridente de Netuno.
Pensar é arranjar um teto para a dor
Para os sentimentos noturnos
Que buscam aconchegar suas tetas
À vidência do pescador de marietas
Aprendiz, deseja emergir da profundidade
Da profunda idade dos eventos
Para a superfície da mente do sonhador.
Pensar é desejar ter a essência do ensejo
Por um fim na ansiedade dos enredos
Saciar-se com a canção longínqua
Com os arpejos e a inconseqüência fugaz
De seus acordes, os mais distantes. Trazê-los
À superfície inesperada da rotina de seus pelos
Na tempestade súbita submersa nos roteiros
Das meninas a quem o pensador sugere
Tenebrosos medos. Ao realizar ao mesmo
Tempo todos os desejos.
Pensar é acariciar os dragões
Nas matinês de fogo
Com mãos de mãe homicida
Que tudo quer tirar do filho
Inclusive as possibilidades perdidas.
Pensar é decifrar a esfinge
Das aparências simultâneas
Dos enigmas. Ao mesmo tempo
Ao mesmo tempo afagar e arrancar
Dela, cadela, o cacófato, o coração
Aparente. Preservar a tênue linha
Pulsante da vida.
É mergulhar nas águas após o ultraje.
Após o naufrágio vencer as ondas frias
No pique navegar às braçadas entre tubarões
Mover-se à distância luxuriosa do Titanic
De suas velhas carpideiras e de seus anões
Em direção ao horizonte tempestuoso
Em busca de um lugar talvez mito
Talvez muito distante
No qual hás de chegar insone. Tu, irmão
Do oceano medonho que te conduzirá
Por fim, a uma praia. Marinheiro sozinho
Hás de aportar extenuado sobrevivente
Das subjetividades indecorosas do mar
Uma vez na praia, delirar. E pela primeira vez
Ver nascer-se no horizonte solar
Aprender a amar a solidão. Saber, afinal, que
Viver é ter luz própria.
Criar linguagem na língua De Camões.
Quebrar a falsa luz do espelho
Dos narcisos antepassados. Fardos a refletir
Miríades de faces entre duas caras
Incansáveis e inconscientes que se pelejam
Eterna e inutilmente
Vaidosas de seus carnavais.
Pensar é saber que o fundo do poço
É sempre mais embaixo. Demente,
Quem o serve há de cair sempre
Em busca de um lugar e aconchego
Que nunca há de chegar. Nem se ver.
Pensar: estar Aqui e Agora
Evoluir, superar, crescer
Através do Universo
Viajar, criar, saber
Forever . . .