Mentiras Beatificadas
Sou um rio lúgubre despencando dos olhos das rochas,
Chamas gélidas implodindo metrópoles,
A humanidade se metamorfoseando em vacas hindus,
Eu canto enquanto meus pulsos sangram,
Todo deus tem por pai um demônio,
O cordeiro e o lobo imolados no altar mosaico,
E converto-me na caligrafia, na mensagem, na caneta,
E no papel utilizado por todos os suicidas biófagos.
Lágrimas borradas escorrem pelos rostos dos palhaços,
Logo depois que as crianças voltam pra casa,
Enquanto assassinatos hediondos geram ibope e furos jornalísticos.
Sentir-se feliz não prova a existência da Felicidade.
Sentir “a presença de Deus” é pura emotividade mistificada e mal interpretada.
Negar ou afirmar é tão previsivelmente humano.
É mais fácil o mundo te modificar
do que tu modificares esse mundo.
Apalpando mentiras,
Respirando mentiras,
Sendo conduzindo nas ruas pelas mãos da mentira.
Trabalhando para instituições e corporações da Suprema Mentira,
Amando fortemente e copulando com mentiras palpáveis,
Pois tu és o que não afirmas,
És o revés de teu próprio oposto,
E te transformas na equação opaca da mentira,
E os filhos do Rei e dos senadores nunca são enviados para as guerras.
Tuas roupas, tuas idéias, teus gostos e tua maneira de falar,
de agir e pensar são tão ridiculamente clichês.
Eis que deslumbro o Amanhecer do meu último Ocaso.
Acaraú, 12 de Abril de 2010