Lições sobre o Nada
Houve um tempo que almejei ser ave,
Queria ser filho, me fiz servo,
Enganei-me e enganei, não consegui ser capaz,
Não tive as forças necessárias para tamanho propósito.
Felizes devem ser os que aprendem a fazer pouco,
Estes são menores devedores do quem tentou fazer,
Na estupidez da ignorância devo ter feito muitas bobagens.
É justo que eu pague. Mas esta misericórdia é dura.
Minha alma esta exausta de existir,
Ainda suponho ter uma, me incomoda a eternidade.
Estou cansado de buscar, quão tolo sou eu,
Mas eu menos disso compartilho a culpa,
A humanidade é uma doença, nós somos uma doença.
Nem templos, nem inteligência, até mesmo a fé se apaga.
Que fazer com uma alma exausta?
Que humilhação maior não é a condenação da consciência.
O encanto talvez esteja em ser energia livre,
Um feliz nada, que não incomoda,
Que é tão ínfimo que não precisa se preocupar com o desprezo.
Não há porque reverter a ordem das coisas,
Em que pese a beleza do tudo, o nada não é ,
Em não sendo, quem sabe não sofre, não esgota-se,
Não almeja, não necessita nem mesmo da misericórdia,
Afinal nada produziu, não cometeu pecados,
Não almejou as saneadoras virtudes.
Foi apenas nada. É isto o fez livre de ser.
02/01/2007.