Lições sobre o Nada

Houve um tempo que almejei ser ave,

Queria ser filho, me fiz servo,

Enganei-me e enganei, não consegui ser capaz,

Não tive as forças necessárias para tamanho propósito.

Felizes devem ser os que aprendem a fazer pouco,

Estes são menores devedores do quem tentou fazer,

Na estupidez da ignorância devo ter feito muitas bobagens.

É justo que eu pague. Mas esta misericórdia é dura.

Minha alma esta exausta de existir,

Ainda suponho ter uma, me incomoda a eternidade.

Estou cansado de buscar, quão tolo sou eu,

Mas eu menos disso compartilho a culpa,

A humanidade é uma doença, nós somos uma doença.

Nem templos, nem inteligência, até mesmo a fé se apaga.

Que fazer com uma alma exausta?

Que humilhação maior não é a condenação da consciência.

O encanto talvez esteja em ser energia livre,

Um feliz nada, que não incomoda,

Que é tão ínfimo que não precisa se preocupar com o desprezo.

Não há porque reverter a ordem das coisas,

Em que pese a beleza do tudo, o nada não é ,

Em não sendo, quem sabe não sofre, não esgota-se,

Não almeja, não necessita nem mesmo da misericórdia,

Afinal nada produziu, não cometeu pecados,

Não almejou as saneadoras virtudes.

Foi apenas nada. É isto o fez livre de ser.

 

02/01/2007.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 10/04/2010
Código do texto: T2188567
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