NESSE EXATO MOMENTO

Duvido que alguém tenha nascido

Para virar vidro

Com um coração dentro

Exposto ao tempo

Perdendo sua cor e brilho

Cisco voando ao vento

Num tempo sem sentido...

Talvez a carne seja a palavra

Pois sem ela não haveria faca

Nem haveria marcas

De emoções perdidas

Ou rugas sob olhos

Esquecidas

Não haveria porque comer amor

Se a eles somos comida...

De longe nos olha a ampulheta branca

Nos vê por dentro

O quanto somos crianças

Esperando que a chuva se vá

Que brote estações de flores e frutos

Que nos tire dessa existência hipnótica

E desçamos enfim da escada da mente

E cá embaixo onde o rio da vida rola

Sejamos o que nós sempre fomos

Iguais em tudo

E desiguais e diferentes

Embora cromossomos.

Talvez um bilhete e nos despeçamos de nós mesmos

E haja outra vida dentro do pensamento

Dentro do ontem que somos agora

Nesse exato momento.