O MENSAGEIRO CIBERNÉTICO

Quando as flores estiverem cansadas

As pétalas secas e enrugadas

Quando tuas mãos não puderem mais com a enxada

Deixa que eu pego na rudia

Lá nas terras do sertão

Na serra da barriga magra

O mensageiro cibernético segue aquela estrada

E depois da primeira dobrada

Avista a casa de Maria

Então anuncia pra minha amada

Que na noite do encantamento

Quando a lua embuchada

Aparecer no firmamento

Nós vamos fazer a última cantoria

Não esqueça também de dizer

Que a flor murchou

Que a água findou

Que a palma secou

E que os zóios do boi

É uma tristeza só

E se não for por demais judiá de tua rudia

Segue o caminho dos pés de mulungu

Onde é a morada dos urubus

E anuncia na vila de Zefinha

Quando será a noite da última cantoria

Não esqueça, também, de trazer uma cachaça boa

Pra nois embebedar a nossa tristeza

E quando no terreiro, a fugueira estiver acesa

As fumaças vão levar pro céu a nossa cantoria

E as nuvens juntas vão dançar uma dança vadia

Dancem vadias!

Quando elas estiverem bem cansadas

Maltratadas feito a mão do lavrador,

Da viola vai sair um canto

O canto da despedida

Meu senhor, minha senhora,

Mas de uma tristeza tão desmedida

Que as nuvens vão chorar

Pra gente rir!

Ze de Guedes
Enviado por Ze de Guedes em 03/04/2010
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