Rosas no Asfalto
Há canções compostas
para suportarmos o medo e a dor.
Há o desejo de permanecer
com os olhos bem abertos,
para enfrentar o esquecimento.
Há um vago gesto em círculo
a traçar os rumos do tempo.
Recolhidos, sentimos na pele
a mudança dos ventos.
Há poesia no movimento dos automóveis.
Buzinam, levantam a poeira,
adubam as rosas no asfalto.
Há uma lágrima na saia da moça.
Aérea, espera o amor.
Sem flores, carrega no olhar
as águas dos rios límpidos.
As manhãs são as mesmas.
Só os homens fabricam pensamentos
e esquecem o milagre
da multiplicação dos peixes.