Cazuzando

E se eu visse o número

De dias que ainda tinha

E fossem míseros escassos.

E se minha força bruta

Estivesse corroída ao âmago

Por uma maldição xenófoba

E o extremo carcereiro

Aferrolhasse o cadeado.

Ai que seria de minha amargura

De minha indolente preguiça

Que seria deste praguejar sonoro

Sina alucinada a que chamo rotina.

Que seria de tanta relutância

E sonhos por nunca cumprir

Que seria de minha pompa moral

De todos os amores que deixei por menos.

Ai profunda dor da saudade

Da maravilha do vislumbre

De tudo aquilo que apenas

Quase viemos a nos tornar.

Serei sempre um quase?

Sempre o choro sem consolo?

Serei sempre a dança de águia solitária?

Sempre a guerra contra a peçonha?

E se urjo e insto por outro momento

Por outra realidade outro futuro

Talvez ainda me debilite ainda mais

Dando às costas aos cobradores

Quem sabe se erro por não falir

Quem sabe o melhor caminho a seguir.

Piso com força

Mas cuido dos joelhos

Assim como amo

E evito a fascinação.

O poder vinha adverso

Era quase como um poder contra si mesmo

E então se dava conta

De que a maior conquista seria sempre o silêncio

A capacidade de ver

E de sentir com os olhos.