A Águia E A Serpente
A ave deslumbrante delgada em beges e cremes
A réptil auspícia enrosca-se-lhe ao pescoço meiga -
Plainam dóceis acima dos nuvenzais irmãs eternas por sobre O Abismo.
Serpente espessa e pecaminosa de cor e timbre de peçonha negra
Águia pérfida e precisa mãe da vastidão do mais imponente foco -
Ela em torno do busto dessa em vôo radial espraiado a funesta perfeição.
Tanto tão incrível por sobre a face deste mundo
Tanto tão nobre e cruel tanto tão pleno e inconsolável
Mas
Ah
Se o homem isto ou se o homem não aquilo -
A verdade é que ninguém realmente sabe
Mas o instante presente desembrulhado ah este sabe de tudo.
Transe torpe do desregrado
Bafos sórdidos dum inadimplente
Surtos epilépticos sob controle
Valsa molesta da tecnosfera -
E não me permito esconjurar nem ofender a que quer que seja
E vejo minha frágil continuidade como uma oferenda sem rumo uma prece dum ateu.
Rezo ilógico ao anacronismo do axioma
As Plêiades acomodam meu travesseiro de pedra
O substantivo se torna o próprio verbo intransitivo
Rogo ao caleidoscópio vivo em meu labirinto
Peço algo que não sei pedir peço uma confusão de pedidos desencontrados
Rogo pra que tudo assim seja como é e então isto é quase como o avesso dum pedido
E dou a sorte de me dar conta de que tudo é realmente perfeito em sua infinitude cósmica -
Não há algo como erro nem falta
O grande pecado original é não termos nos divertido mais em nossa estória!
Haverão sempre seguidores e palradores
Haverão sempre pavões glutões e tolos
Haverão sempre cornucópias iriscidentes
Haverão sempre idealismos estrupadores
Haverão sempre tudos e nadas extremos
Haverão sempre todos os aquis e agoras
Haverão sempre os perpétuos dos amores
Haverão sempre as duas amigas flutuantes.