Confidenciado amor exposto... (Dueto com Eliane Alcântara)
Devo deixar o sentimento que em mim transborda falar? Deixar que o espelho seja partido em pedaços e rutile reflexos do amor que sinto?
- De maneira alguma. Transborde-o com a riqueza de detalhes que o teu coração ordenar e nos brinde com uma aula de amor.
Acaso fala meu corpo a cada gesto, outra em mim renasce, deixo-lhe viva?
- O diálogo com teu corpo expressa uma vitalidade de quem o sente personagem vivo da tua história e não apenas um ator coadjuvante.
Sou tomada de assalto por belos pensamentos, coisas d'alma em êxtase, versos que nem eu mesma compreendo e publico ao vento, talvez eles cheguem a ele e o incomode até que me tome nos braços e faça do meu corpo o pedestal para todos os desejos que sempre o rondaram.
- Aqui está o fulcro, o cerne, a essência do poeta que sente, registra e transfere para o papel a sua divina inspiração. É o chamado sagrado que se encontrava oculto e que a vontade, o desejo de amar e ser amado, foi mais forte e imperativo lapidando palavras para transpor as barreiras de mares bravios e ancorar no porto de seus sonhos.
Nova mulher, mais forte, viva e inteiramente segura persegue-me, é carta de apresentação do meu sorriso cheio de gravuras íntimas, transpiro o que vem dele em letras, em dizeres de amadurecimento e cresço flor destemida, livre da intimidação da poda. Tudo o que em mim suspira tem a cor do que ele vive o que planejo tem a magia dos sonhos de noites juntos, do acordar e não sentir o bom da vida escapar pelos dedos.
- E a beleza que se desprende de tua face sorridente, atinge aos olhos da alma de quem busca a fonte limpa e cristalina para matar a sua sede de vida, que pulsa no nosso íntimo coletivo, para poder ver encantado o retrato do que de sublime desenhastes, com todas as cores, como a emoldurar um quadro profundo e delicado, no qual se podem perceber minúcias gravadas que nunca mais iremos esquecer.
O coração, fantasiado de menina travessa risca folhas, escreve raios no amanhecer natural de outras delicadezas, a boca sussurra em segredo tudo o que inebria o olhar, e faz dos instantes em que ele é presença, o mais rico prêmio, que pode uma mulher desejar. Mulher essa que já não tem outra poesia além do nome dele bordado em tudo o que é precioso ao existir, ao sentir.
- E sabes tu aí garota sapeca onde passeias de trança e que quiçá, numa pendular balança, espalha pelo ar esse teu perfume envolvente que até as mais diversas flores, sintetizadas nas hortênsias encantadas de teu jardim, a reverenciam, abrindo as suas pétalas azuis, para esse encontro mágico, descrito em teus versos soltos e uníssonos, a seduzir um distraído poeta que contemplou e ouviu o teu chamado...
Devo então calar? Afogar o que em mim é luz? Já não posso conter os meus mares, as ilhas desertas do meu ser, as tempestades que anunciam a explosão de venturas e são responsáveis por essa nova fêmea que me atropela. Vivo a cada dia mais abrangente, abrangida pelo calor dos olhos dele, amarrada por gosto a alma dele, açoitada de saudades e ternuras. O vazio que carrego é dele. O todo que sou completasse nele.
- De jeito algum. Repito e rebobino a minha convicção que de ti reluz o fascínio, povoando a imensidão dos meus vazios a contemplar o conteúdo riquíssimo de uma mulher que não cala o que lhe pede as suas entranhas poéticas, fascinada que está pelas descobertas de ser o foco prioritário de múltiplos olhares... Tamanha e ampla é a energia eletromagnética que os atrai como um imã que os prendeu e estão em ti aprisionados.
Acaso valeria a pena matar essa que pronuncia o verdadeiro amor e de tantas viagens encontra o paraíso de portas abertas ao descanso? Intensa em tudo o que vivo, pela primeira vez derreto espuma, frágil brisa coloco-me nas mãos dele em aconchego.
- Os jardins, bosques, relvas, cabanas, praias, pássaros cantando, sete portas e janelas estão abertas, com os jardins em festa, para receber o teu clamor profético. Venha! Desde o gênesis o Criador a espera para que o paraíso volte a ser o que era depois de tantas eras de solidão e abandono, onde os homens se perderam cultuando só a matéria, fazendo o espírito vagar pelas trevas.
Não posso sozinha condenar-me ao trancafiar de belas emoções, que seja ele, o senhor do meu peito, a escolher qual destino dar a essa, que outro homem será incapaz de amar.
- Não estaremos mais sós. Rompe-se aqui séculos de esperas e renasce em nossos versos, não uma simples quimera, mas a nova e salutar esperança das possibilidades do amor mais puro, saudável, singelo e vigoroso.
Na espera olho hortênsias. Azuis feito sonhos...
- E eu me quedo prostrado e embevecido pela magia dos teus versos.
Dueto: Eliane Alcântara e Hildebrando Menezes
Nota: Inspirado no texto original de Eliane Alcântara intitulado ‘Confidenciado amor’
Publicado no Mural dos Escritores link abaixo:
http://muraldosescritores.ning.com/profiles/blogs/confidenciado-amor