Sedução

Principia morna

Tão imperceptível geralmente que é quase por normal não se aperceber dela até fase avançada

Principia morna

Tênue e sucinta

A infância que quando se tem sorte não é destroçada pela violência da pobreza

Principia morna e pouco a pouco alcança ebulição

Carameliza o sumo do ser pouco a pouco

Enrijece-se -

Principia morna e estúpida

Quase insignificante

Não fossem as infinitas improbabilidades geradas por cada parto

Principia morna e desprezível

E por vezes vive-se décadas sem nunca confrontá-la assim lúcida lúdica e demonstradamente

À presença de si mesmo.

Principia morna

E depois quando ebole

Rapaduriza-se e novamente se desmancha

Ficando das raízes da memória senão fantasmas

Que deixamos de ser as células que já fomos certo dia

Completamente

Deixamos de ser o bicho propriamente dito que éramos quando crianças

Mas algo restou

Costuma restar

Como uma confluência de sonhos nos instigando a tal ou qual técnica de entretenimento

Como pequenas cenas inesquecíveis e também inelutavelmente esquecidas

Resta como um arrepio brotado do ventre coluna acima

Regelando a paixão

Como uma tosse insensível e ao mesmo tempo absolutamente programada que arremessa o pensamento no mais linear silêncio.

Principia morna

A bastarda

Coitada

Principia inútil e em geral continua assim até o fim

Salvo as ressalvas -

E mesmo sabendo da inutilidade não calunio o resplandescer do inevitável

Não praguejo irresoluto me convencendo de superioridades ascetas insondáveis

E depois de matar a sede no regato sagrado

Depois de acalmar as feras e fundir as esferas

Depois de me resumir a uma ânsia por silêncio e à prestidigitação esclarecida do silêncio

Depois de me perguntar de novo e de novo sobre como foi que cheguei à conclusão de que esta coisa a que chamo de sofrimento é exatamente sofrimento

E porquê mereça enfim lamento

Depois de prantear por dádiva à minha própria malícia

Serestar às Vênus e Órions distantes

Depois de fartar-me de figos e caquis espinhentos rutilosos num oásis perdido no maior deserto

Depois de tudo isto de muito menos ou de muito mais

Depois de alguns bons lances galgados na jogatina do amor

Arde então uma alma.

Arde e se relembra

E despreza-se a si pra que a lembrança não tenha mais valor que o momento presente.

Arde e sonha e escancara pálpebras pra fazer da realidade o sonho

Arde e vive e se sacia e deseja sempre mais

Ddeia e distingue sempre mais

Arde e se se contrai

Pode tornar à mornidão

Mas já não à mornidão original

Que o passado é pedra irremovível -

Arde e se se torna novamente morna

Pode resfriar-se

Pode até mesmo congelar-se

O Mistério Da Pedra -

Arde e se se congela

Se grita o grande grito do silêncio da pedra

Então se torna gravidade

Se torna sol e sistema solar.

Então vive dentre a gentama estranhamente

Como um demônio

E trinca e rejubila como palhaço irresistível

Cócegas na alma

Só de deixar-se estar assim assim sorrindorrindo natural.

Que o relaxamento é um sorriso

O relaxamento em eixo.

Experimente

Aprume-se

Firme

Mantendo o diagrama

Trabalhando o diafragma

Tudo sempre em frente

Espie os quatro cantos

Relaxe aprumado nariz virado pra frente

Queixo e umbigo e tudo mais alinhado -

Sorri-se

Que o gesto sorri quando relaxado em aprumo

É natural a alegria ao organismo

E o próprio esforço inteligente fortalece

Guia

E o riso cedo ou tarde eclode

A fascinante letargia do que caminha por sobre pontes sem fim

O estupor agradável e mordaz do que desliza por entre eternidades.