Da Vulnerabilidade Inerente
Quisera realizar em vigília meus sonhos mais perversos
Quisera apaixonar-me por mim mesmo por sedução de meu amor pela vida
Em descambagens e rodeios deixei de me importar com tanto
E tão grosseiramente -
Quero ser o supremo sonho da vigília
Esboçando assim meio humilde a minha gâna
E quando se diz quero
Sempre completamente irresponsavelmente
Por mais que queiramos afirmar controvérsias improváveis
Por mais que queiramos afirmar um livre-arbítrio ou um juízo individual
Sempre que se diz eu quero
Se diz também sim a uma pequena alegria.
Alegria do poder de crer
Não crer como numa coisa ou em alguém
Mas saber simplesmente que tudo que está aí
Quer dizer por aí afinal em toda parte
Que tudo isto é de verdade mesmo e existe na realidade comum a todos -
Comum no sentido comum mesmo
Não é tão simples quanto parece o exercício de simplesmente se aceitar à completa irresponsabilidade incorrente em todo ato
Em todo mínimo estímulo ou reflexo ou desdobramento de estímulo.
É fazer do suor uma lâmina de cristal
Nadar com escamas de salmão humano
É voar como a andorinha branquinha afogada no verdemarrom da selva virgem
Entre galhos ora bebendo de pitangas ora de tamarindos
Vez ou outra mordiscando castanhas perdidas de marsupiais
Nadar em rio pedregoso límpido como o cristal mais límpido
As corredeiras incríveis capilares de nossa faunaflora como o néctar mais suntuoso e delicado
Quase a nutrição toda em si
A holística toda em si
Na terapia da água dum rio transparente.
É rabiscar de leve num papel branco nossas pequenas impressões instantâneas
Tentativa de traduzir em traços soltos semialeatórios uma forma que eventualmente predomine e então guie toda criação
E os espíritos que deixamos esvoaçantes nestes papéis
Nossas Sodomas e Gomorras erradicadas
Apocalipses e zoroastrismos
Toda literatura da fagulha tranquila
Do anzol fatal irresistível
Gaya nossa mãe
Alfa e ômega de nossos santuários de molibdênio fantástico
Gaya rainha matrona
Juíza e meretriz
Deus e seu pecado original
Gaya de sol e buritizais fractais
De trilhênios de idade e população
Gaya máter soberba A Musa sem igual azul sem fundo de meiodia equatorial.
Salve a harmonia da mente e do coração
Vivam os frutos das sementes que virão.
Só pra me mostrar sem máscaras
Despejar a abundância da realidade
Só pra esfregar na cara uma fragilidade
Pontuar uma fraqueza universal e guerrear pela superação de si
Pela paz da vitória por sobre a população de si
O aniquilamento de todos fragmentos sinápticos desordenados de nossas esquizofrenias.
Mantra do sim
Dizer sim a uma pequena alegria
Ah meu caro minha cara
É dizer sim a todas as alegrias
Pequenas e grandes
É dizer sim a tudo que já foi e que ainda vem
Tudo que já voltou e também àquilo que torna sempre a correr
É dizer sim ao sempre -
Viver o sempre
Que a vida não é senão este sempre que brevemente sobrevém
Esta férrea euforia que toda presença transpira ao se dar conta de si mesma.