Pasargadar

Bóra pasargadar!

Vou-me embora do aonde nunca pertenci

Vou-me embora pro infinito

Pro eterno amor de que nunca me esqueci.

Vou tocar e dançar na minha sala de estar

Anarquizar a alegria aqui e acolá

Dadaísta matreiro me desbragar.

Vou rimar por ânsia de ritmo

E sorrir por ânsia de mimos

Vou escalar os alpes

Beber de todos os cimos

Vou troar todos os sinos e fisgar às mais nobres sinas.

Vamos juntos todos a voar

Leões risonhos e pombas a planar

Vamos nos fundir

Imergir

Na deidade parida de nossa amizade

No oceano de flores de amores.

Explosões sem fim de astutos volatins

Em cabriolagens camaradas pelos peremptórios e confins

Fartas ceias de bacantes

Amantes embasbacantes

Pondo à mesa as safas e as sãnhas

Nas manhas.

E em cada manhã

Sem artimanhas

Seremos mais fortes luzeiros

Por obra de nossas loucuras

Seremos os sábios incompreensíveis

Os gênios invencíveis

Prostrados em nossas coragens

Imóveis

Imóveis e correndo pelo mundo

Rodando às rodas das grandes paixões

Os furibundos trovões.

E o sol há-de nos ser sempre mais dourado

A água há-de nos ser sempre mais reflexo

Nossas alegrias hão-de se elevar aos mais excelsos píncaros do instantejá

Talharemos juntos a pedra do vento

Extraindo da transparência a suprema afirmação

Os totens reclusos de nossa emoção.

E quem sabe

Incrédulos e déspostas

Possamos usurpar às vidas uns dos outros ao extremo

E façamos a mais pérfida e perfeita transação de espíritos

Vivendo as vidas uns dos outros simultaneamente

Unos e distantes como os sulcos duma grande roda dágua

Roda girando

Dando luz à cidade da novidade

Arrastada pela ação motriz do rio nascido do encontro de nossas fontes

No último delta de nossas vontades.