Andando sem Vontade

Rara noite de sábado.

A lua no céu é cheia

e uma ceia ao ar livre ilumina.

Meus passos são vagos,

andante sou eu

sem rumo, sem vida

sem sorte, guarida,

sem o que escolher...

Rara noite de sábado.

A lua lá no céu é tão cheia

que uma ceia, o quintal, meus sapatos,

tudo ela ilumina.

E me amofina o pensamento

de na ceia não estar.

Mas pra que este lamento,

se eu não quis aceitar?

Já nem mesmo sei quem sou.

Frase cansada, porém a mais indicada

para essas horas de milhares de desejos,

muitos sonhos, e nenhum amor por algum deles.

E o pior é que isto se dá

com tudo na minha existência,

sem que a menor providência

eu seja capaz de tomar.

Vi num dia raro presente da natureza:

numa loura, uma alteza de olhos verdes, atraente.

Mas imediatamente uma morena surgiu.

Eu com as duas na cama,

nenhuma das duas me engana.

Sei que é impossível, distante,

mas sei como é tão importante

a distância que o desejo reduz.

Vou seguindo meu caminho,

relutando, mas sozinho,

que é pra ver se vou me achar.

Mas é tão grande a estrada,

como o tudo que tenho que é nada,

que o fim não vai chegar.

“Vontade é coisa que dá e passa”.

Acho até graça.

Quantos desejos se foram,

quantas vontades ficaram,

e muito pouco mudaram.

Que bom se elas sentissem

a vontade que eu tenho

de delas me desfazer,

pra só com uma ficar

e começar a viver.