O CHEIRO DAS ORQUÍDEAS
CANTO III E ÚLTIMO
O ÊXTASE
Cadeados ao pé dos portões, portas, das alcovas jazem esquartejados, fumegantes, linguetas retorcidas, expostas, pela serra banguela do ferreiro exausto, extasiado, pela alvura das coxas, do cheiro das entranhas inchadas, em incandescência. Um riso diabólico, satânico, luxurioso, assalta, rasga os céus. As fêmeas se amanham, estendem-se arreganhadas nos leitos, cantos de paredes, corredores, olhos vidrados, mudas esperam... A sombra negra rasga o véu negro da negra noite, paira sobre elas, escondem-nas com suas asas enormes, esvoaçantes... Seu talo hirto perde-se engolido por entre as pétalas das orquídeas rubras, úmidas, soluçantes, néctares derramando... Nos lábios, as línguas passeiam... Entre farfalhares, esgares libidinosos, rendidas, as rosas, pétalas se fecham, prolongam o gozo da fecundação...