Série Personagem n.23
O MÚSICO
E nesta alta e solitária mansarda,
sou meio rebelde...meio mutante:
corpo franzino...óculos...nariz fino,
roupa amassada, frio semblante
numa cabeça intensa e pensante.
Despindo o terno, eu fico terno;
sonho e relevo o modesto quarto,
também o quanto me sinto farto,
tão cansado de aulas particulares;
quem me dera Paris ou novos ares.
Mas apenas me importa o instante
em que, ao fechar a minha porta,
sento-me contente ao velho piano,
que é um tirano e um amigo amado,
com quem já estou bem acostumado.
E para olvidar o meu fado errante,
dou início ao instante de celebração
espalhando no ar uma linda canção
que é feito um rito, feito um grito,
da minha alma sensível - e amante.
...
Ah! Então soe...cante minha melodia
cresça, esparrame-se - se agigante
e, saindo dos meus dedos, do papel,
suba (bela) envolvendo terra e céu
com seu som imperecível e radiante.
***
Silvia Regina Costa Lima
28 de janeiro de 2010
telhados e mansardas de Paris
Te dedico