O GEMIDO

Ouvi de meu tataravô essa história bizarra, no debulhar do feijão.

O vício do esfregar-coxas, resfolegar da sanfona, encostado do oitão.

Uma noite surgiu um moço (olhos pretos, bigode fino, cavanhaque pontudos), negro como um azulão.

Como um rei de terreiro com as mulheres dançou. À meia-noite sumiu.

Sumiu também Estela. Só se ouviu o gemido no miolo da escuridão.

Fizeram caçada, vigília, e nenhum sinal da moça.

Deram-na por perdida, encantada se foi, levada pela ilusão.

Passaram-se meses. Rala-bucho emendou, a caboclada,

da apanha do milharal cansada, espantando a solidão.

Sem mais, uma linda moça se fez, retinta, como grão de café torrado. Meia-noite sumiu Rosa. Só se ouviu o gemido no miolo da escuridão.

O alvoroço foi grande. Segunda vez, o fato se repetia.

Exigia de imediato, resposta, uma solução.

Homens armaram um mela-coxas. Coisa do Satanás,

do Capiroto. Esperaram esconder a lua. Ia ficar assim não.

Muniram-se. Bacamartes com sal bento. De repente um cão

preto. Sumiu Ana. Só se ouviu o gemido no miolo da escuridão.

Joseoli
Enviado por Joseoli em 13/02/2010
Código do texto: T2085503
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