O GEMIDO
Ouvi de meu tataravô essa história bizarra, no debulhar do feijão.
O vício do esfregar-coxas, resfolegar da sanfona, encostado do oitão.
Uma noite surgiu um moço (olhos pretos, bigode fino, cavanhaque pontudos), negro como um azulão.
Como um rei de terreiro com as mulheres dançou. À meia-noite sumiu.
Sumiu também Estela. Só se ouviu o gemido no miolo da escuridão.
Fizeram caçada, vigília, e nenhum sinal da moça.
Deram-na por perdida, encantada se foi, levada pela ilusão.
Passaram-se meses. Rala-bucho emendou, a caboclada,
da apanha do milharal cansada, espantando a solidão.
Sem mais, uma linda moça se fez, retinta, como grão de café torrado. Meia-noite sumiu Rosa. Só se ouviu o gemido no miolo da escuridão.
O alvoroço foi grande. Segunda vez, o fato se repetia.
Exigia de imediato, resposta, uma solução.
Homens armaram um mela-coxas. Coisa do Satanás,
do Capiroto. Esperaram esconder a lua. Ia ficar assim não.
Muniram-se. Bacamartes com sal bento. De repente um cão
preto. Sumiu Ana. Só se ouviu o gemido no miolo da escuridão.