PALAVRÃO
Duvido que um energúmeno, carcamano nesta vida, não
tenha dito palavrão, por coisa séria, uma besteira.
Aliás, dizê-lo é rotina, do cotidiano,
Escapa liso, muçum ensaboado, por raiva, brincadeira.
Sabia, às vezes, por necessidade,
como uma bacia velha pr’uma renitente goteira.
Digam-me se não é prazeroso, num jogo de futebol quando
o atacante bom ou ruim, por leseira,
um gol perde, nós o mandamos
para aquele lugar, com a família inteira?
Numa topada, ele sai ecoando, a todos admirando,
como uma bacia velha pr’uma renitente goteira...
Os moralistas, os hipócritas, trazem-no encabrestados,
mas, por dá cá aquela palha, rompe-se a tranqueira...
Soltam de lotes, aos bandos, baixinho, se lamentando,
beatas a se confessarem, quando perdem as estribeiras.
Razão tem o povão, que o usa com propriedade,
como uma bacia velha pr’uma renitente goteira.