Memória
Porta fechada. Mais nada.
Tudo em volta é abandono.
Uma vidraça quebrada.
Um entra e sai do vento pelos buracos das janelas.
Um leve roçar de galhos secos nas amortecidas paredes.
O gradil da sacada sem marcas de vida.
Há uma quietude na deteriorada casa.
Na rua apenas os olhos esquecidos das falas.
Todavia encostado ao tronco da velha árvore um homem.
Em sua mente desenha-se o rumor de outra imagem.
O som de um piano adentra na tarde.
Uma bela moça em seu vestido de rendas o atrai.
É uma figura bucólica com um livro nas mãos.
Ela aproxima-se da sacada e admira as flores nos galhos ingênuos.
A luz de despedida do sol incide nas negras tranças de seus cabelos.
Diante da velha casa ela é a festa aos olhos dos passantes.
Uma magia secreta há nesse instante.
O homem não sente a decadência do casarão.
Seu corpo é silêncio. Em respeito às memórias do passado.