Andando na Praia
Não posso mostrar as espumas das ondas
chegando tranqüilas próximas à areia.
Nem a sereia de formosura absoluta
mesmo depois de intensa luta com o pincel
eu saberia reproduzir.
A linha do horizonte, passando por trás da ilha
com suas formações rochosas,
pouco cobertas pela vegetação,
jamais teria a menor definição
da ponta do meu pincel.
O que poderia eu dizer
da pipa que o menino empinou?
Da linha branca, transparente,
dez dos grandes certamente,
que une o dedo do guri ao pião que ele fez?
Digam-me talvez que esses termos
já não se usam. Ficaram lá no Méier.
Mas o cavalete do pintor conta toda a história na hora.
Não monta o quebra-cabeças como faz quem escreve,
à procura das palavras que nem sempre dizem o que é.
Cafuné na beira da praia, olhando a pipa subir
pra cruzar com ninguém.
Os pássaros vão lá, bem além,
na sua formação triangular,
pouco se importando com quem
já não sabe bem no que pensar.
A calça de malha é bonita,
as coxas voluptuosas;
cabelos dourados que chegam
mais que no meio das costas;
o olhar é altivo, arrogante,
mas não lhe afeta o semblante
pro qual o que eu quis foi sorrir.
Ou as ondas também violentas,
trazendo em seu bojo os garotos
na prancha de surf dominada
pela firmeza dos pés.
Muito longe eu passaria da imagem.
Melhor ficar com a aquarela
que me oferece o pintor de cabelos compridos,
que não estão contidos por uma fita.
Melhor passar despercebido – ninguém me grita
– pelo calçadão da avenida,
procurando saber se a vida
ainda zombava de mim.
Era preciso que fosse assim.
Vem meu culumim,
no dizer de Gilberto Freyre,
veja o Brasil como é grande.
A toda Cuba le gusta.
Augusta é o nome da loura,
das coxas do brilho cetim.
E a folha de papel se apresentou branca,
esperando que eu fizesse alguma coisa.
Tudo, menos desenhar com o lápis
aquilo que eu jamais saberia escrever...