Pluralismo Psíquico
As palavras da Morte são mais dipsômanas de que meus eus cartesianos.
Homem: sê minha rocha a ser esculpida.
Deus: seja minha metáfora substancial.
Eis o mundo: essa falsa analogia com nossas roupas gastas
que se desfiam enquanto nos movemos,
amando e sendo desprezados;
O sonho que arranca o enterrado dos trapos que o envolvem
Venera tais despojos tanto quanto os vivos.
A fé fumega de todas as igrejas ensangüentadas.
O Tempo é uma tola fantasia, efêmera e absurda.
O vento insalubre com o contágio da tosse sibilante, o tempo em busca
de formas numa cinza agonizante; o amor com seus ardis,
A fome satisfeita do Cadáver enquanto conquistais o mundo à prova de beijos.
Ao milagre da primeira palavra afinal articulada,
do primeiro segredo do coração, o fantasma que adverte,
E a terra e o céu copulavam como duas montanhas enlaçadas,
despertando os meus olhos para o som da luz.
Atento em minha segunda morte, assinalei as colinas,
as colheitas de cicuta e as folhas de grama,
com meu sangue a se oxidar sobre os mortos em repouso,
forçando minha segunda natureza a partir da relva.
A humanidade cuspida da Dor volta a padecer,
num ciclo infinito que circunda a alma.
O homem é a máscara do Cadáver,
O manto que me envolve é a Morte...
As pútridas profundezas eram o mestre arrogante do homem,
meu espectro diante do espelho mutilado,
sou o espelho de meu próprio ser paradoxal,
Aquele era o deus do princípio no intricado vórtice de uma regressão infinita,
E minhas imagens rugiram e galgaram as colinas do céu.
Dir-se-á que os deuses são pedras esculpidas.
Ecoará sobre a terra uma pedra que caiu,
ressoará o seixo arremessado? Deixai que as pedras falem
com as línguas que falam todos os dialetos ocultos,
pois toda a existência é filha primogênita da Mentira.
Houve um tempo em que os livros choravam nas estantes silenciosamente,
mas o tempo engendrou uma larva em seu casulo,
e dentro do casulo navegava a arca de Noé com o cadáver de sua divindade genocida.
O mais seguro nessa vida é o que jamais se conhece,
O cego é quem melhor vê.
O tempo nos mata sem misericórdia.
Profetizai sobre o auto-assassinato pandêmico.
O mundo é minha chaga, o medo é o pai de Deus,
E as batidas de meu coração atormentam
demoniacamente todas as crianças desse mundo.
O baque matinal da pá que interrompe o sono
Sacode nas trevas do ataúde um menino desolado
que verte folhas secas ao cortar sua própria garganta,
E arremessa ao sol um osso num lance de raciocínio matemático,
depois que os relógios gotejam lágrimas de sangue cobrindo as paredes da sala.
Arremessa teu medo aos pés de uma cruz a meia noite,
Atravessando os asilos tenebrosos onde os filósofos vomitam suas sábias loucuras,
Pois eu sinto a espada de Deus perfurando os meus olhos,
E os corações dos jovens soldados são violentados,
E Agonia agora possui uma outra boca para se alimentar e controlar.
E houve um segredo sagrado que me confidenciaram todos os assassinos.
Minha alma sempre esteve no âmago de todos os crimes, assassinatos e guerras.
Quero ser o novo Deus da humanidade,
O Deus de um culto ao contrário,
Um Deus de liturgias vorazes,
Um Deus de um panteísmo de sangue de crianças esfoladas vivas,
Para poder encher toda a medida da minha fúria imaginativa liricamente reprimida,
E entrando pela porta da Morte eu levo as cabeças de todos os antigos mitos,
de todos os deuses, e de incontáveis burgueses de todas as nações.
As igrejas são os novos cemitérios onde se levam flores e lágrimas
para o túmulo sacro do antigo Deus-Semita.
Todos os que perambulam por lá estão mortos perante os olhos da Vida.
Por mais que queiram que eu tenha consciência, e que se tenha consciência,
Tudo é pura Inconsciência,
por que quando se abrangeu Tudo não abrangeu explicar o que é um Tudo.
E os corvos se banqueteavam com os cadáveres
de todas as leis, costumes, teorias, certezas e mentiras.
Tragam todos os que pronunciam os vocábulos “felicidade, dinheiro ou pós-mundos”,
E os enforquem perante os gritos de misericórdia de seus próprios pais...
[Anjos selvagens bradam dentro de mim
por um novo mundo renovado pela destruição niilista.]