VOZES DO TEMPO

Do outro lado da rua

A tabacaria inexiste

Testemunha outrora

De amores e separações

Vencida pelo tempo foi.

E o tempo que não pede passagem

Invade rei absoluto e como tal fica.

À memória retorna vez ou outra

E a tabacaria inalterada aparece

Os amores há pouco esquecidos

Deixam pela face uma lágrima.

Irresoluto à noite sai

Toma um gole e outros e tantos mais

Já não tem a tabacaria

E muitos amigos já se foram

Ao do balcão fica e não conhece ninguém

É um desconhecido

Lamenta que ainda vive.

E o tempo que não lhe importunava

Atroz se mostra frente ao espelho

Que reflete caminhos antes percorridos

Em frenética ânsia da aventura.

E a tabacaria que já não existe

Se lhe tornou testemunha do tempo

Registrado nas rugas como sinais da idade

Inconsciente sobre o espelho embaçado

As mãos tremulas e involuntárias,

Gravam saudade.