a linha do tempo na mão
pega mais longe que o fio
da linha do oceano
pega mais longe que o pano
que espanta o arrepio
pega e vem no corrupio
doida pegar minha mão
nega pra mim o cansaço
que já dissestes que tinhas
nega o estardalhaço
que eu inventei quando vinhas
doida querendo meu braço
pra depois ter minha mão
rega o meu assoalho
com teu sapato de salto
rega o meu ato falho
com o teu sorriso mais alto
diz que eu sou o pirralho
que levas aí pela mão
faça de mim o assunto
que todos tenham entendido
faça de mim o presunto
que todos tenham comido
prenda-me pra que eu vá junto
do que tu prendes com a mão
encha minha boca de sal
pra que eu não morra de sede
traga-me o quadro do mal
que não caiu da parede
e um pedaço de pau
pra que eu segure com a mão
faça um castelo de areia
onde o mar não existe
faça que eu pinte a sereia
com o sorriso mais triste
que cor nenhuma clareia
só se pintada com a mão
ande depressa ou corra
da tua imagem comigo
mas se voltar, nos socorra
coloque um de nós no abrigo
antes que a gente percorra
a linha do tempo na mão
embriagada permita
que eu te atropele de frente
recuperada, demita
quem te tirou o aguardente
mas na estrada reflita
se queres mesmo a minha mão
já quis te dar muito tudo
com todo o sabor que isso tem
já quis passar pelo mudo
que fala como ninguém
com gestos e o olhar felpudo
da cor da carícia da mão
mas tu dissestes que havia
na porta da casa um aviso
e que isso a impedia
daquilo que fosse preciso
e que era pra mim a magia
que se constrói com a mão