Baudelaire

Baudelaire, fervoroso adepto e puxa-saco de Satã,
Meu Deus! era demais até...
Mas Deus esperou pacientemente que ele morresse
E, para vingar-se dele de uma vez por todas,
O mandou para o Reino dos Céus!

[Mario Quintana; Velório sem defunto, 1990]



POEMA MAL  DITO

Sob a cruz de um velho túmulo
Um negro corvo de canelas secas
Entre grasnados e bicadas
Dilacera-me o coração embebido em
Palavras ácidas e de fel repugnante!
Os sentidos entorpecidos em um
Malte escocês falsificado e contrabandeado
Feito um zé ninguém em terras estrangeiras
Distante de seu torrão...embriaga-me e tortura-me
Com náuseas e vômitos infernais!
Mísero quadro grotesco que se desenha
Com caricaturas em branco e preto.
Dor e odor putrefado a transcender o ar em
repugnante e repulsivo perfume narcótico!
Um jogo deprimente de sedução e sacrilégio
Ressoa entre os semelhantes que se atraem...
São anjos e são demônios,
Viventes de um passado
Morto em fantasmas moribundos
Em versos decadentes,
Pústulas cadavéricas,
Ausência de luz.
Por companhia vermes e podridão!
No caminho,
Um rastro pálido de esperança mórbida.
Após a fria madrugada,
Majestoso o sol nasce pra todos,
Espetáculo de vida num
Poema mal dito!


"...E que fique muito mal explicado.
Não faço força para ser entendido.
Quem faz sentido é soldado..."

Mário Quintana

Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 11/01/2010
Reeditado em 12/01/2010
Código do texto: T2023368
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