UM POEMA DE SANGUE PARA O MAR

Ah !Ei-lo , majestoso,oceanicamente jovem,

Salga a minha cara e acalma meus nervos,

Sonhei contigo e eu era um lagarto vermelho;

Esticado sobre as rochas e a areia.

Ah! Vejo-o como antes, esplendoroso,

Fascinante e hermafrodita e hetero e homo.

As meninas mostram seus pelos pubianos, os homens

Se esticam em músculos como se fossem molas,

O sol saiu bêbado de sua maresia e

vomitou um vermelho-laranja no horizonte,

e pediu a saideira.

Sim, estava com saudades gigantescas,

Vejo que sua juventude e sua vitalidade é eterna.

Não precisa de Prozac , nem Viagra, nem maconha,

Carrega nas costas uma nostalgia que lhe pesa.

Um deslumbramento secular, por trás de suas ondas,

Vem e volta , garimpando as areias com um motor sonolento,

que não dorme nunca,

E ritmicamente lava suas águas e as mágoas

dos homens,

E traz as flores que Yemanjá se perfumou,

o peixe que o menino de rua furtou,

o marisco para levantar a moral dos homens;

o vento que sacode a sacudida bunda da negona,

o pretexto para um beijo roubado entre adolescentes e

crianças.

Ah! Ei-lo magnanimamente ofensivo,

Ao trabalho, a política e a moral.

Dissolve o esperma na água viva, espreme o sal nas

máquinas de carne e de algas e

mói em seus porões no fundo do oceano os soçobros enferrujados pelo salitre

e pelo vento abissal.

Salga o sexo das meninas,entumesce os seios das sereias

valdivinas ,excita os glutões que vivem a catar sobras na praia

a se masturbarem escondidos no areal.

Mas sua juventude é sobrenatural como um vampiro.

E suga o sangue, inocula o veneno e depois desafia os tempos,

E todos voltam para lhe oferecer o sangue renovado.

E todos vem fazer pedidos de sangue e de suor e de alegria.

Como se fosse um deus de água e de lágrimas e de esperança .

De desafios , de uma nova aliança.

E cá estou , esticado sobre as rochas e a areia, como um lagarto vermelho,

O sol queima as minhas costas, mas sinto apenas arrepios de êxtase.

E de frio.

Vim para trazer meu sacrifício.

Vim para trazer minha preguiça e minha lassidão.

E beber do seu líquido de algas e de hemáceas e de

esperança .

Pois cá estou com os seus náufragos .

Os olhos marejando de lágrimas e

de devaneios.

(Observando o mar em Jardim de Alah , ao longe , em Salvador-Ba, num dia quente e agitado de 16 de Dezembro de 2009.)