Ouço os sussurros do mar

Após profundo recolhimento,

abri de meu Ser todas as portas

e janelas de par em par...

O Sol da manhã iluminou-me os olhos

cegando a melancolia

que insistentemente tentava cobrir

com negro véu a renascente alegria.

Suave calor banhou minha face

e gentilmente, senti seus afagos

com doçura meu corpo acarinhar.

Iluminou-se-me a alma...

pensei:não posso, nem devo

um só segundo

desta vida desperdiçar,

desta vida que me está insistente

a chamar todos os dias sem cessar.

Sussura-me do mar a brisa:

"o que importa é a vida, Mirna"...

as sementes que a terra

com ternura tens lançado

são agora multicoloridas flores

a exalar os mais exóticos olores...

atraem pássaros e abelhas

que deste teu jardim alegremente

recolhem, em seu alegre esvoaçar, o pólem.

Pequeninas avezinhas de indefinível beleza

construiram dia a dia delicados ninhos

onde estão a chocar seus ovinhos...

Breve, muitos nascerão

e este teu jardim mais belo

ainda será para teus olhos deleitar

... e dos filhotinhos

verás os primeiros "voares"...

serão para ti seus primeiros cantares:

música das esferas

que provarão ter valido a pena

todas as longas e esperançosas esperas.

Lembra-te, irmã amiga:

a vida, com o nascer de cada dia se reinicia:

tu deves, sim, continuar ...

É um novo ciclo de teu Ser

que, em evolução constante,

ao fazer-te como criatura crescer,

muito te tem feito sofrer.

As dores todas do mundo

sei que se encontram em teu peito a arder...

pois sabes ser impossível mudar a Terra

onde impera a humana mesquinhez...

Não te deixes, porém, abater,

prossegue neste teu sublime mistér de escrever.

Teu cantar é o da alma,

tuas palavras, as da verdade,

teu caminho, o da luz!

Escreve! Revela por inteiro teu Ser.

Muitos te irão entender