Sombras da Terra Prometida

Mero fantasma
que já não assombra a ninguém,
com a exceção de si,
para rir e chorar
das venturas e desventuras
de ser ou não ser.
Vivendo por trilhas
onde existe, mas duvida,
onde faz-se nada
para se descobrir
estranhamente ainda vivo.
Um vivo além de si,
onde a razão descompromete-se
em prol das sensações e pressentimentos.
Caminho tantas vezes trilhados,
que se antes era apenas o alívio da fuga,
acaba por perder o dom do consolo
para unir-se aos caminhos das dúvidas.
E então a filosofia
já abandona-se a bem da poesia.
Torna-se livre,
mas, exigente, não quer ser apenas utopia,
mas brotar semente no plano real,
criando um conflito insolúvel
que só o tempo dirá se foi instante perdido
ou se teve algum sentido.
Tempo distante,
despojado da presença do autor e ator,
pois que do presente o futuro
é visto como paisagem distante.
Como o Moises bíblico
que viu a Terra Prometida,
mas nela não entrou,
morrendo com o seu desejo,
com a vontade de toda uma vida,
na sua solidão,
confortado apenas pelo dever cumprido,
renunciando de si para outros viverem.
O Moisés que falava com Deus,
que quis recusar sua missão...
O Moisés apenas, talvez, uma lenda,
mais uma história, mas enfim,
um sujeito que tinha
por delírio o hábito de falar com Deus.
Um Moisés que, se existiu,
construiu o caminho de sua utopia,
que por fim nada mais que utopia,
apenas uma obra inacabada.
Para que a força da realidade
sempre desminta os mais nobres propósitos.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 04/12/2009
Reeditado em 16/11/2017
Código do texto: T1960119
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