Coisas da vida
Tenho medo
De abdicar de ter medo
Porque enquanto o medo me açoita
Eu sei que minha alma se levanta
e resiste contra o medo
tenho medo sim
de me olhar e não gostar de mim
revoltar-me contra a imagem que me pertence
que se vai gastando, abatida sofrida
que meu ser me vai devolvendo
enquanto as forças se vão arruinando
e o fervor abrandando
É o tributo dos anos que fascinei os outros, sim,
mas mais a mim,
porque me envaideci esqueci que a vida colhe
na mesma medida que vai repondo com ternura, se não me perder
em escusadas fugas de amor felicidade alegria
se por amor se morre e vive todos os dias
então na fantasia vou aprimorando
sonhando idealizo construo
paisagens que me transmitem o sabor da mensagem que aspiro
para harmonia dos extravios
que já se não renovam com a primavera
nem com a aragem nem com a chuva miudinha
nem vêem com a maré cheia
as perdas e os ganhos vão e vêem todos os dias nas disposições divinas
é preciso crer nessa perenidade
que vai para além da morte
para elevar a minha serenidade e não me perder de mim
confortar-me na simplicidade da paz interior.
E deixar de ter medo.
De tta
2~12~09