Caminhada
Caminha o menino na relva ainda molhada,
aceitando o desafio de não ver ruborizadas
as duas faces do rosto... de pele morena.
Caminha o menino sob a chuva na calçada,
aceitando o desafio de não ver petrificadas
as idéias que ele tinha... de uma vida inacabada.
Caminha o menino sob o som de uma toada,
aceitando que o destino pode estar na encruzilhada
de duas ruas sem carros, sinal... ou guarda de trânsito.
Caminha o menino sob a noite enluarada.
Vai pela estradinha de terra, tenuemente iluminada,
que se acaba ali na frente... na densa vegetação.
Caminha o menino, vai com a mente encabulada.
Só se foi o desatino de saber que a namorada
era tudo o que queria... ou era nada.
Caminha o menino sob o som da trovoada,
esperando o torvelinho de paixões desenfreadas,
mas o que ele vê no caminho... é o aceno do perdão.
Caminha o menino de uma forma apressada
na certeza do encontro de uma paz encomendada,
tendo a sorte de achar... uma agulha no palheiro.
Caminha o menino de estatura elevada,
de tantas lutas vencidas, de vitórias apertadas
em uma vida esquecida... no meio da solidão.
Caminha e persiste o menino...
como o sabor da canção.
Rio, 02/01/2005