Sombra e Luz

Sombra e Luz

Nos braços de uma dolente canção, paira minh’alma angustiada, exangue, doente - entrecortadas guarânias ancestrais.

Uirapurus invectivando nas tardes, sabiás em coro flautando, réquiens infernais, soturnos condores, abutres mortais;

Dedos ferindo cordas em guitarras, aterradoras fanfarras conspurcando silentes madrugadas, incestuosos amores estivais.

Corpos abatidos em fonte interdita, pescadores de metáforas, poesias malditas, propugnam despidos, arquetípicas utopias abissais.

Iníquas tempestades violentando vestais, nefandos conclaves urdindo idéias banais, serpentes letárgicas, prisma de cores trágicas – arco-íris letal.

Um sol poente, translúcido, agoniza em lúdicos espasmos, emoldura leito de flores recepcionando nubentes em orgasmos – sombra e luz – mistura e contradição.

Rapunzel em vontade reclusa, sofismando prazeres irreais, enredada em tranças confusas, sonhadores sapos brindando em taças de prata - cristais alquímicos em deambulação.

A fábula da noite enfim chega, trazendo em seu bojo a saudade, a presença do teu faltar, constatação absurda, crisálidas em metamorfoses surdas - veneno em dose fatal.

Ante-sala de Hades lotada, Olimpo em decomposição, carpideiras a postos, compradas, inalterados paradigmas arrimando crenças de ocasião, pavorosos suores noturnos, equinócios em poluções.

É humano destroçar-se em conflitos, afogar-se em contraditórias razões, aflitivos pesadelos descritos em mutismos, assoberbados senões, copiar o passado proscrito, em módicas, avarentas poções.

Desembestar-se em galopes no espaço, embrenhar-se em planetas hibernais, abrigar-se em exóticas trincheiras, usurpar personas aceitas salvaguardar-se no âmago do Caos – arlequínica tarefa, sutis carnavais.

Crianças ingênuas logradas nas feiras, taciturnas madres, descompostas noviças, viçosas ovelhas; lupinos pastores, ordenhas sangrentas, pétreos solstícios - sacrifícios solenes, Liliths astrais.

Assim caminha o humano, em sombra e luz envolvido, mutante expulso do Éden, misto de deus e bandido, imagem de seu Criador, desterrado em espelho fendido, narcísico reflexo de si, algemado em inadequações.

Há que se deixar escoar todo o cabedal de angústia contida em uma alma despedaçada, para que nela renasça, como fênix vitoriosa, a necessária vontade de viver.

Vale do Paraíba, manhã da terceira Sexta-Feira de Novembro de 2009

João Bosco (Aprendiz de poeta)

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 20/11/2009
Reeditado em 21/11/2009
Código do texto: T1934152
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